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terça-feira, 30 de novembro de 2010

Desabafo de uma sapatão....

Eu já ouvi tantos "apesares" na minha vida, mas nenhum deles dói tanto quanto um "apesar" referido a algo tão íntimo meu como o é a minha sexualidade. Esse final de semana para mim foi marcado por acontecimentos trágicos, ainda que haja um quê de cômico num deles. Para não entrar na parte dramática, contar-lhes-ei do que me aconteceu na tarde de sábado:

Fui para uma cidade aqui perto para passar o fim de semana com a minha namorada. O fato é que ela tinha de ajudar a mãe nuns afazeres domésticos. Não teve outra, e eu tive que ir com ela e encarar a fera. Ah, eu já fui sabendo que a maioria dos evangélicos pensam merda da homossexualidade, mas putz, cara, minha sogra se supera, ôh! Cheguei tremendo na base, e cumprimentei-a formalmente, ao passo que na hora em que a ditacuja me viu, referiu-se à mim como "missionária". Depois de meias palavras trocadas e olhares atravessados ela começou com a típica pregação de "salvação", e disse que "G-zuis ia me pegar de jeito" (olha que coisa feia sogrinha, botando palavras na boca de Jesus!), e também que eu precisava de "um varão de D-us com o membro rígido" (lalala, estou suavizando o verdadeiro termo chulo que ela utilizou, curiosamente advindo de uma evangélica!), vejamos, e o resto da minha tarde se reumiu a um conflito (desnecessário?) de ideologias, crenças, opiniões, insultos e carões. E fechando com chave de ouro tive que escutar calada à desagradável citação bíblica de Gênesis I: "Deus fez macho e fêmea." Eu me pergunto e daí!?

Deus fez macho e fêmea e a genética humana explica que os dois podem se relacionar harmoniosamente com o mesmo sexo. Até na natureza isso ocorre naturalmente. É impossível discutir com pessoas que tem o pensamento livre tolhido pelas amarras da dogmatização religiosa. Apenas acarretou numa puta dor de cabeça e num pesadelo que eu passei no fim dessa noite. Enquanto isso aqui em casa, eu tenho de escutar quase que diariamente que "me deixei levar pelas influências dos amigos" (homossexualidade pega, é?!) e que fiz essa "escolha burra" (jura que ser gay não é opção?!) e tenho de aguentar as consequências do meu pecado. (Satan tá me esperando lá no Hell, lol)

Agora chega, né! Eu tenho que gritar. Para minha (querida?) sogra alienada que eu continuo sendo muito FÊMEA ainda que namore outra mulher. É só perguntar para a Biologia o que eu tenho no meio das pernas, e o meu sistema reprodutor interno além do par de seios que a natureza me deu. É isso o que me classifica como FÊMEA! E não a minha orientação sexual!

Agora para minha desinformada mamãe: Quero provas concretas de que a homossexualidade é contagiosa! E quero que ela saiba que eu A-DO-RO sofrer preconceito e discriminação. Nossa! O meu maior desejo é ser estuprada por um varão de Deus picudo que vai me ensinar que o certo é gostar de homem! Espero que ela não lamente tanto quando vir meu corpo estendido ao chão, molestado não por um pênis mas por uma ideologia de ódio carregada por um homofóbico fdp qualquer.

E que continuem acontecendo mais e mais crimes de ódio, por que os viados e as sapatas merecem morrer mesmo! E que Deus ou sei lá que porra divina desça e venha fazer todos os gays queimarem no fogo do inferno por quê ele é imperfeito, visto que criou gente imperfeita - os homossexuais.

Minhas ironias acima não destilam totalmente o tamanho da raiva, do ódio e da indignação que estou sentindo nesse momento e que sinto o gosto amargo praticamente todos os dias...

Desculpem a agressividade das palavras, mas eu tinha que GRITAR! :@

Um comentário:

Drika L.S. disse...

Putz...que grito é esse que ecoa tão forte, que deixa marcas, que ensurdece?! Diante desse desabafo só me resta dizer que todo este preconceito e discriminação, um dia terá fim, se pessoas como vc, Dora, gritarem bem alto como vc fez agora. Parabéns!